Ciclo de debates sobre Saúde do Trabalhador chega aos Campos Gerais


A 5ª etapa do Ciclo Estadual de Debates sobre Saúde do Trabalhador foi realizada em Ponta Grossa nesta quinta-feira (12), com objetivo de formular propostas a serem discutidas nas conferências municipais, estadual e nacional de saúde para melhorar a Política Estadual de Atenção a Saúde do Trabalhador, formalizada em dezembro de 2010. O ciclo é uma parceria entre o Centro Estadual de Saúde do Trabalhador (Cest) e o Conselho Estadual de Saúde (Ces).

O ciclo será realizado nas 22 Regionais de Saúde até setembro deste ano. O evento em Ponta Grossa reuniu mais de 70 pessoas, entre gestores, profissionais de saúde, trabalhadores, estudantes, representantes de órgãos da previdência social, Ministério Público do Trabalho, entidades de classe e pesquisadores da região de Ponta Grossa. A próxima etapa será nesta sexta-feira (13) em Irati, no Centro de Eventos Italiano.

“O trabalho deve ser um instrumento de dignificação do ser humano e não um sinônimo de sofrimento ou causador de doenças e distúrbios na vida da pessoa”, disse o diretor do Centro Estadual de Saúde do Trabalhador, José Lúcio dos Santos. Segundo ele, o processo de adoecimento está ligado ao modo de vida da pessoa e como ultimamente a pressão por resultados é muito grande e o trabalhador muitas vezes vive em função do trabalho, a atenção à saúde dos trabalhadores deve ser uma das prioridades no SUS.

Na abertura do evento a técnica do Cest, Sílvia Albertini, apresentou a política estadual aos trabalhadores. “É essencial que todos entendam esta política para ter consciência dos seus direitos e verificar se eles estão sendo assegurados dentro do ambiente de trabalho”, disse ela. Segundo Albertini, com isso estarão aptos também a denunciar e sugerir novas propostas para garantir um local de trabalho seguro a todos. Este papel de controle social é importante para saber quais os pontos ainda não estão sendo contemplados nesta política, partindo de questões levantadas pelos próprios trabalhadores.

Um dos problemas levantados pelo representante do Sindicato das Empresas de Comércio de Ponta Grossa, José Vanilson Cordeiro, é a questão da porta de entrada do SUS. “Quando o açougueiro chega ao posto de saúde com um corte no dedo, ele é atendido normalmente, sem que haja uma investigação do que realmente aconteceu. Ele recebe apenas o tratamento, mas não é perguntado qual a causa do ferimento”, explicou.

De acordo com Santos, este é um problema sério, pois os acidentes de trabalho são de notificação obrigatória no SUS, mas ainda não há uma cultura na atenção básica de buscar essas informações. Com isso é difícil traçar um panorama real situação das doenças ou até identificar óbitos relacionados ao trabalho. “Vamos buscar capacitar estes profissionais, pois se tivermos informações sobre a causa inicial da doença ou distúrbios podemos atuar de forma mais eficaz na raiz do problema”, enfatizou.

A palestra da representante da Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador, do Conselho Estadual de Saúde, Manoela Lorenzi, foi voltada ao fortalecimento da vigilância em Saúde do Trabalhador com apoio das entidades representantes dos trabalhadores. “Muitas vezes o trabalhador tem receio de reclamar ou exigir seus direitos diretamente ao seu empregador, por isso a demanda pode ser encaminhada ao sindicato da categoria que poderá solicitar um monitoramento mais próximo dos serviços públicos de fiscalização para que os problemas sejam investigados”, disse.

O Ministério Público do Trabalho, representado pelo procurador Helder José Mendes, também contribuiu com as discussões, sobretudo no acesso dos trabalhadores e dos sindicatos à Justiça. “Quando o trabalhador tem algum problema com seu empregador ele não sabe a quem recorrer, com questões relacionadas à saúde não é diferente”, explicou. O procurador explicou também o papel do Ministério Público do Trabalho, que tem o foco de defender o direito coletivo e por isso a recomendação é que quando há algum problema individual no ambiente de trabalho, como assédio moral, o trabalhador busque mais informações de como proceder no sindicato de sua categoria.

CONFERÊNCIAS - As conferências municipais e estaduais de saúde são eventos destinados a analisar a situação do SUS e propor diretrizes para a formulação ou alteração de políticas públicas de saúde. Essas conferências são prévias para as discussões nacionais, que acontecem a cada quatro anos e tem poder deliberativo.

Os participantes do ciclo foram distribuídos em grupos de trabalho para traçar pontos relevantes à saúde do trabalhador que serão pautados nas conferências. A principal proposta foi a criação de comissões intersetoriais municipais para se discutir a saúde do trabalhador de acordo com as culturas de cada região
 
Fonte: Agência de Notícias do Estado do Paraná