Pesquisa mostra disputa apertada


Hauly, Barbosa e Belinati dividiriam a preferência do eleitorado, segundo o Paraná Pesquisas, caso a eleição fosse hoje

A 16 meses da escolha de um novo prefeito, se as eleições fossem hoje o eleitor de Londrina optaria por mais do mesmo: dividiria votos entre o ex-prefeito Antonio Belinati (PP), o atual prefeito Barbosa Neto (PDT) e Luiz Carlos Hauly (PSDB), deputado federal licenciado e secretário de Fazenda do Paraná (veja quadros). A novidade é Marcelo Belinati (PP), que em várias simulações está grudado em Hauly, desbancando o próprio prefeito e políticos locais como o deputado estadual Luis Eduardo Cheida (PMDB), o ex-vereador Tercílio Turini (PPS) e o deputado federal André Vargas, secretário nacional de comunicação do PT.

Foram entrevistados 686 eleitores acima de 16 anos entre 26 e 30 de maio. O eleitor foi questionado pela Paraná Pesquisas sobre diferentes cenários de segundo turno. No primeiro cenário, Hauly bateria Barbosa com 47,67% a 31,92%. Já na possibilidade de Marcelo Belinati e Barbosa se enfrentarem, haveria quase um empate em razão da margem de erro de 4%: o atual ficaria com 34,55% das preferências dos eleitores e Marcelo com 40,96%. Na última hipótese, entre Hauly e Marcelo, o tucano venceria com leve vantagem, obtendo 44% contra 38,78%.

“As movimentações eleitorais vão se evidenciando aos poucos, apesar da distância da eleição”, diz o cientista político Mario Sérgio Lepre. Apesar dos números, estatisticamente, afirma Lepre, o candidato que está no governo só perde uma eleição “se algo muito sério ocorrer com a administração”.

Barbosa, diz Lepre, passará por uma espécie de referendo ao se arriscar nas próximas eleições “e tem uma chance razoável”. Mesmo os abalos na imagem do prefeito com o caos na saúde e a grita geral quanto à manutenção asfáltica da cidade “tendem a sucumbir” diante da máquina funcionando em favor do administrador , acredita o analista. O impulso de Barbosa em atuar em questões cruciais da cidade – como o calçadão, a regulação de táxis e ambulantes e a poluição visual, por exemplo – são trunfos do prefeito “ainda que tenham sido debates agressivos com a sociedade”.

A sombra da suspeita de corrupção, acredita, seria a pecha que Barbosa deve evitar a todo custo. “Londrina não tolera mais.”

Sem sintomas
A aparição de um bem colocado Marcelo Belinati (PP) nos primeiros lugares da preferência do eleitor de Londrina é um sinal de que o vereador agrega o nome da família Belinati, mas não carrega os sintomas do belinatismo. “Espantoso que o nome dele seja tão presente quando o eleitor é perguntado abertamente, sem uma lista, para indicar em quem votaria. E fica mais presente ainda quando é apresentado diretamente ao leitor”, afirma Mario Lepre, sobre o desempenho do vereador.

O cientista social Lidmar José Araújo acredita que a ascendência de Marcelo Belinati ainda não ameaça as chances de reeleição do prefeito Barbosa Neto. “Até agora a crise não o atingiu diretamente. O prefeito tem um grande desafio: superar a desconfiança contra tudo o que está em volta e imprimir alguma normalidade à administração.”

Segundo Araújo, Barbosa deve “criar uma agenda o mais positiva possível de forma premente”. O cenário desfavorável, sustenta o cientista, “ainda é totalmente recuperável”. Tanto que Araújo vê possibilidades de Barbosa surpreender a cidade com medidas na área da saúde. “É um problema que desgasta todos os prefeitos País afora”, diz. “Atrairia grande simpatia popular se conseguisse um conjunto mínimo de respostas.”

Sobre a ausência de novos nomes, o analista lamenta a falta de articulação dos demais partidos. “Serão os três (Hauly, Barbora e Marcelo). Não tem mais para ninguém”, atesta, excluindo o PT.

Suposta vitória de Hauly reflete desgaste de Barbosa

O desgaste da imagem do prefeito Barbosa Neto fica mais evidente a partir da preferência apontada pelo eleitor na simulação de segundo turno entre ambos.

Mário Lepre avalia que os 47,67% do tucano ante os 31,92% de votos em Barbosa, se a eleição fosse hoje, refletem a reprovação em “um cenário claro de desgaste diante de uma crise”. Para o especialista, Hauly é um nome que entraria na disputa com as mesmas vestes do passado – e não representaria uma ameaça real se o cenário presente fosse diferente.

Sobre a ascensão de Marcelo (40,96%) sobre Barbosa (34,55%) em um segundo turno, Lepre diz que o cenário é, de fato, “espantoso”. “O prefeito perde, na prática, para um desconhecido”. Marcelo Belinati, justifica, é vereador de primeiro mandato, não tem programa de rádio, disputa espaço na imprensa com demais vereadores de oposição e apenas nos últimos três meses tem aceitado, de forma mais aberta, a assumir efetivamente uma postura de candidato para as eleições do ano que vem.

Para Lepre, as chances de Marcelo aumentam diante de uma desistência de Hauly, também eterno candidato à Prefeitura. “Beto Richa vai olhar isso com certeza”, diz, em referência ao poder do governador de “convencer” o secretário de Fazenda tucano a abrir mão da disputa em nome de uma aliança belinatista. “É o que pode complicar o Barbosa se as notícias negativas em torno dele se arrastarem ainda mais.”

Quanto à pífia preferência dos eleitores por candidatos petistas na pesquisa – como Márcia Lopes e o deputado André Vargas – enfatiza Lepre: “O PT, depois de oito anos em Londrina, tornou-se coadjuvante em definitivo”.


Impunidade “absolve” corrupção, acredita analista
Provavelmente impedido de concorrer em qualquer nova disputa em razão da ficha-suja e do sem-número de processos em que é acusado de corrupção, o ex-prefeito Antonio Belinati pode ser reabilitado se os escândalos na gestão da saúde e mesmo na CMTU, também alvo de investigações, se perpetuarem. “De certa forma, uma avalanche de acusações contra membros do governo municipal redimem Belinati”, explica Lepre. “Ainda bem que Londrina gosta de mudar e atualmente já costuma votar contra o que aparece como publicamente muito negativo”.

Um dos motivos pelo qual Belinati poderia ser ‘ressuscitado’ politicamente é, justamente, a falta de punição. “Infelizmente ainda não condenamos desvio de dinheiro, não penalizamos com cadeia, não há devolução de um centavo de dinheiro público desviado. Se as pessoas são acusadas e nada ocorre no âmbito da Justiça depois de longos anos, então está absolvido”. O cientista político diz que em Londrina e no Brasil de forma geral, “vivemos a política do morto-vivo”. “Escândalo sobre escândalo torna os políticos muito iguais”.

Lepre relembra que o motivo pelo qual Belinati foi excluído da eleição anterior sequer se sustentou: “O Tribunal de Contas disse que não havia problemas no convênio que gerou o impedimento dele. Então, na lógica, para o povo, nunca foi condenado por nada”.

Fonte: Jornal de Londrina