Centrais realizam protesto em SP em agosto pela agenda trabalhista


Alheias a movimentação da CUT, as demais centrais sindicais fecharão ciclo de mobilizações dia 3 de agosto, em frente ao estádio do Pacaembu, em São Paulo, para pressionar o Congresso a votar projetos de interesse dos sindicatos, como a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e o fim do fator previdenciário.

"Sabemos que o governo Dilma [Rousseff] tem sido pressionado por todos os lados, então também temos que fazer a nossa pressão para melhorar as condições da classe trabalhadora", afirmou o presidente da CTB, Wagner Gomes.

Sem a facilidade para negociar com o governo que tinham quando Luiz Inácio Lula da Silva, vindo do movimento sindical, era presidente, Força Sindical, UGT, CTB, Nova Central e CGTB pretendem juntar cerca de 80 mil em passeata até a Assembleia Legislativa de São Paulo para forçar a votação de projetos da categoria no Congresso.

"O problema não é nem a presidente ter uma abordagem diferente de tratar os movimentos sociais. A preocupação é com medidas que ela tomou que vão na contramão do desenvolvimento, como aumentar a taxa de juros", continua Gomes.

O diálogo mais truncado com o governo - hoje o interlocutor dos sindicatos é o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, ministro de confiança de Lula, mas com menos poderes para tomar decisões do que o ex-presidente -, alimentado por embates sobre os projetos em discussão, levou ao afastamento da CUT das outras centrais.

O racha começou com o valor do salário mínimo - a Força defendia emenda do PSDB de R$ 600, enquanto a CUT queria R$ 560 - e se estendeu as comemorações do 1º de Maio, com um evento das cinco centrais e outro dela.

Segundo dirigentes sindicais ouvidos pelo Valor, a divisão logo nos primeiros meses do governo Dilma é uma forma de a CUT, ligada ao PT e com relação estreita com o governo federal, se destacar na defesa dos trabalhadores e evitar o crescimento das outras centrais, infladas pelo repasse de imposto sindical desde 2008.

Para evitar a concorrência e a consequente perda de cargos no governo federal, a CUT tenta fincar bandeiras próprias, como o fim do imposto sindical obrigatório - cobrança que ela quer tornar facultativa, definida por assembleia da categoria, o que pode inclusive aumentar o valor, hoje de um dia de salário por ano.

Há também pressão de correntes internas importantes, como dos Metalúrgicos do ABC, que pregam o afastamento como forma de se destacar mais na mídia - há eleição para a diretoria da central no fim do ano.

O protesto do dia 3 de agosto das cinco centrais, com a CUT realizando mobilização própria uma semana depois, é o último exemplo dessa distensão entre os grupos. A pauta de reivindicações, formada por temas de convergência como a redução da jornada de trabalho, foi definida há mais de um ano pelas seis centrais durante a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, quando as entidades celebraram a união e fortalecimento do movimento sindical.

Agora separadas, as cinco centrais também planejam mobilizações em Brasília em agosto. Elas querem uma reunião com os presidentes da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para cobrar a votação em plenário da redução da jornada e de veto do ex-presidente Lula sobre projeto que extingue o fator previdenciário.

"A jornada é mais difícil de aprovar, porque exige dois terços dos votos. Mas o fator previdenciário, se for a voto, é 100% de chance de passar", afirmou o deputado Roberto Santiago (PV), vice-presidente da UGT.

Fonte: Valor Econômico