Acuado, Ribeiro diz que não quer "ser crucificado vivo"


Após assumir ter recebido propina do esquema de desvio de dinheiro público articulado com empresas que venderam uniformes escolares para a Prefeitura de Londrina, o prefeito José Ribeiro (PSC) começa a segunda-feira sob intensa pressão da sociedade pela renúncia do cargo e na mira de uma Comissão Processante a ser aprovada na Câmara de Vereadores.

Ontem, em conversa pelo interfone da residência onde mora, no Jardim Alvorada (zona oeste), Ribeiro disse ao JL que somente falará publicamente nesta segunda-feira, depois de cumprir a única agenda oficial marcada. Pela manhã, recebe o embaixador da Rússia no Brasil, Sergey Pogóssovitch Akopov, quando deve anunciar a abertura de uma nova empresa na cidade, e mais empregos.

O chefe do Executivo permanecia em silêncio desde a quarta-feira, quando o Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) revelou parte do conteúdo do depoimento em que surpreendeu e confessou ter aceitado R$ 150 mil em suborno. Segundo o depoimento, R$ 50 mil foram entregues ao ex-prefeito cassado Barbosa Neto (PDT), e outros R$ 50 mil dados ao ex-secretário de Fazenda Lindomar dos Santos, que deixou o cargo na semana passada, logo após a confissão de Ribeiro. A declaração do prefeito aos promotores foi espontânea. Está assinada a gravada.

Em casa com a família, Ribeiro não quis receber a reportagem do JL pessoalmente. Pelo interfone, mostrou-se muito abalado e justificou que uma entrevista neste momento poderia prejudicá-lo “mais do que já estou prejudicado”. “Estou organizando a cabeça e conversando com os advogados sobre tudo. Depois da visita (do embaixador) vou me pronunciar. É um compromisso muito importante para a cidade. Peço que respeite meu estado de saúde. Preciso ficar em silêncio por enquanto”, alegou.

Sobre a renúncia após a confissão de propina, Ribeiro afirmou ainda não ter “um norte definido”. Sem muitas palavras, afirmou que a permanência no cargo contraria “interesses políticos” e que tem repetido a resposta desde a semana passada, quando todos o questionam sobre a renúncia: “Tenho dito não, não, não, não”. Mostrando desânimo, Ribeiro declarou que vai às últimas consequências no que chama de “compromisso com a cidade”: “Mas não quero ser crucificado vivo.” O prefeito repetiu que apenas aguardava, entre ontem e hoje, novas conversas com os advogados “para definir o caminho a ser seguido”.

O prefeito de Londrina admitiu que o seu melhor amigo, o ex-secretário de Fazenda Lindomar dos Santos, a quem entregou R$ 50 mil dos valores recebidos das empresas, “está, com certeza, muito aborrecido” com ele. “Estou perdendo amigos de mais de 30 anos com quem tive relação muito próxima, de pedir conselho mesmo. Infelizmente, acontece.”

Fonte: Jornal de Londrina