Doenças circulatórias são as que mais matam


É com uma caminhada lenta e diária e uma vida de boa alimentação que o aposentado Orípes Borges, 66, adia a possibilidade que muitos londrinenses não conseguiram vencer: há pelo menos 12 anos, desde 2000, os problemas circulatórios estão no topo das causas de mortes e de motivos de internações de pacientes nos hospitais da cidade. Quando essas doenças chegam às unidades hospitalares é sinal de que os custos públicos serão maiores.

Segundo dados do documento Perfil de Londrina – 2012, lançado pela Prefeitura, somente em 2010 um total de 934 pessoas morreram em Londrina vitimadas por problemas cardíacos, infartos, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e arteriosclerose, quadro que em 2011 levou a 4.309 internações na rede pública local pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – o equivalente a quase 13% de todas as internações na cidade. Apenas os partos levaram mais pessoas aos hospitais: no mesmo ano, foram 4.380 nascimentos.

Longe das estatísticas, Borges segue a receita básica: come verduras, faz exercícios diários, nunca fumou e de bebida, só refrigerante “de vez em nunca”, brinca. “Não como carne gorda e nem sou fã de picanha. Caminho quase uma hora por dia e te garanto que a minha vida não é mais chata por conta dessas escolhas”, assegura o aposentado. A cada mês, faz um check up da pressão arterial e se monitora de forma contínua.

Com tais rotinas, Borges evita integrar a faixa de idade de maior risco para internações: em 2011, dos mais de 4 mil que foram parar nas alas dos hospitais de Londrina com problemas circulatórios 1.064 pacientes tinham entre 60 e 69 anos. “Rapaz, a minha vida é assim desde a infância, quando os pais alertavam sobre o perigo de fumar, beber, comer gordura. Até a necessidade de comer doces eu deixei para trás”, comenta o aposentado, feliz da vida.

“Arritmia, infarto, derrame, pressão alta, AVC. Não há nada mais fundamental para revolucionar a vida de alguém do que mudar hábitos”, assegura o cardiologista Valmir Rosa, plantonista da UTI do Hospital Evangélico. “Medicina preventiva é sempre melhor e mais econômica do que medicina de tratamento. Infelizmente, a nossa cultura é pobre bastante para aceitarmos gastos enormes em tratamentos públicos que seriam quase desnecessários se houvesse medidas anteriores aos problemas”, diz o cardiologista.

Wander Eduardo Sardinha, cirurgião cardiovascular e chefe da disciplina na UEL, aponta que doenças cardíacas e doenças vasculares periféricas estão diretamente conectadas. “Doenças periféricas de circulação matam menos que doenças cardíacas, mas deixam muito mais sequelas e mutilações”, explica o professor, lembrando problemas decorrentes do AVC e amputações necessárias – principalmente em casos de pessoas diabéticas. “Diminuir sal, açúcares e gorduras previne doenças no coração e uma série de outras questões que podem vir no mesmo passo”, diz. “Quase 40% dos pacientes com obstrução nas artérias da perna tem problemas coronários”, resume o médico, para quem as doenças do aparelho circulatório ainda têm menos visibilidade do que as doenças cardíacas mais evidentes e temidas por fumantes, diabéticos e sedentários.

Fonte: Jornal de Londrina