Um ano depois da cassação, Barbosa quer voltar à política


Passado um ano da cassação de seu mandato pela Câmara de Vereadores, o ex-prefeito de Londrina Barbosa Neto (PDT) se bate no Judiciário para tentar reverter a decisão política e, quem sabe, voltar a disputar um cargo público. "Vou fazer 47 anos, tenho tempo para mais eleições. Não vou abandonar a política, não sou covarde. A política é para corajosos e para realizadores. Estou à disposição caso consiga reverter essa decisão política da Câmara", diz o político, que é jornalista e dono de uma emissora de rádio em Londrina. 

Barbosa, que já havia sido deputado estadual e federal, foi cassado em 30 de julho do ano passado, por 13 votos (o mínimo necessário) a dois. Votaram contra o pedetista Roberto Fú, que havia sido líder do prefeito na Câmara, e Rodrigo Gouvêa (PTC), cuja mãe era secretária do Idoso. Os aliados Jairo Tamura (PSB), Roberto Fortini (PTC) e Eloir Valença (PHS - que três meses antes havia sido preso sob suspeita de ter recebido propina para votar contra a abertura da Comissão Processante (CP) da Centronic) se abstiveram. O outro pedetista daquela legislatura, Sebastião dos Metalúrgicos, estava de licença médica. 

O ex-prefeito disse não ter mágoas de quem quer que seja. "Superei isso tudo. Não fico olhando para trás. Não vou me colocar como vítima. Não tenho espaço para mágoa", afirma o ex-prefeito. "Fui cassado por uma decisão política. Eles me cassaram por medo de eu disputar e ser reeleito. É assim que funciona em todo lugar quando você contraria interesses. Governei com 50 cargos comissionados e com minoria na Câmara. Quantos estadistas não foram contrariados no seu tempo e que o tempo mostrou que eles estavam certos?", declarou. 

A sessão de cassação começou às 9 horas da manhã e às 21h30 saía o veredicto: Barbosa Neto cometera infração político-administrativa por ter pago com dinheiro público dois vigilantes que trabalharam em sua rádio e seu mandato, que se iniciara mais tarde, em 1º de maio de 2009, se encerra mais cedo. Os vigilantes eram funcionários da Centronic, empresa que prestava serviços de segurança ao município, em cujos holerites constava como fonte pagadora a prefeitura. Barbosa sempre sustentou a versão de que mantinha com a empresa um contrato de permuta de publicidade. 

Com o decreto de cassação, assumiu o vice-prefeito, José Joaquim Ribeiro (que renunciaria dois meses depois ao admitir receber propina) e Barbosa teve os direitos políticos suspensos por oito anos, o que vale dizer que não pode disputar cargos eletivos até 2020. Nos dias que antecederam a cassação e posteriormente, sua defesa ingressou com pelo menos meia dúzia de ações para reverter a decisão legislativa. A maioria já foi julgada e indeferida pela Justiça de Londrina. Os recursos tramitam no Tribunal de Justiça (TJ). "Meus advogados acreditam que a gente possa reverter isso." 

À época da cassação, analistas consideram que o pedetista perdeu o mandato pelo "conjunto da obra", já que o caso Centronic era menos grave diante de outras denúncias que pesam contra seu governo, como o escândalo na saúde revelado em 2011 pela operação Antissepsia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Consistia na suposta exigência de propina por parte de agentes municipais – incluindo o prefeito – para garantir a contratação de dois institutos que executaram serviços como o gerenciamento do Samu, de Internação Domiciliar e Controle de Endemias. 

Alguns meses antes da abertura da CP da Centronic, no entanto, a Câmara havia arquivado o pedido de CP da Saúde, assim como outras duas comissões processantes: sempre faltava um vereador para o quórum legal de 13 votos. Assim, a prisão em flagrante de aliados de Barbosa em 24 de abril – como o ex-secretário de Gestão Pública e de Governo Marco Cito e do empresário Ludovico Bonato – foi fundamental para que a CP fosse criada. Eles foram acusados de oferecer pelo menos R$ 40 mil (e efetivamente entregaram R$ 20 mil) ao então vereador Amauri Cardoso (PSDB) para que ele votasse contra abertura da CP da Centronic. Uma semana depois de Cito, foram presos Eloir Valença, o ex-diretor da Sercomtel Allysson Tobias Carvalho e o ex-chefe de Gabinete Rogério Lopes Ortega. 

Pelo caso Centronic, Barbosa responde a uma ação por improbidade, além de outras seis ações que pedem ressarcimento do erário e suspensão dos direitos políticos. Na esfera penal, é réu no caso de fraude na compra de uniformes escolares e de livros didáticos, além de responder a um inquérito pelo caso da Saúde. "Não tenho nenhuma condenação. A ideia é provar minha inocência", diz Barbosa. 

A cassação de Barbosa foi a segunda na história de Londrina: em 22 de junho de 2000 o ex-prefeito Antonio Belinati perdeu o mandato por decisão da Câmara por promoção pessoal na inauguração do Pronto Atendimento Infantil (PAI).

Fonte: Folha de Londrina