Guardas em formação denunciam suposto abuso durante curso


Apesar de ter um canal próprio para denúncias na corregedoria da Guarda Municipal, os alunos que participam do curso de formação e devem chegar às ruas no próximo mês não se sentem seguros para denunciar supostos abusos sofridos. Denúncias encaminhadas ao prefeito Alexandre Kireeff (PSD) se tornaram motivo de retaliação durante as aulas.

O curso de formação dos futuros guardas municipais teve início em agosto. Nas últimas semanas, no entanto, alguns supostos abusos por parte da direção da corporação passaram a fazer parte das aulas. Alguns alunos procuraram o JL para relatar humilhações, torturas psicológicas e físicas.

Em edital publicado em 7 de novembro, a Secretaria Municipal de Defesa Social acrescentou ao edital do curso de formação a garantia de que infrações cometidas por monitores e instrutores do curso seriam apuradas pela corregedoria. De acordo com o secretário de Defesa Social, Rubens Guimarães, não chegou até ele qualquer reclamação de irregularidades cometidas por servidores no curso. “Eu desconheço essas reclamações. Mas estou sempre aberto a recebê-las”, garantiu.

Os futuros guardas dizem não se sentir seguros para levar adiante as denúncias dos supostos abusos que vêm sofrendo. A insegurança resulta de uma primeira tentativa em levar reclamações anônimas diretamente a Kireeff, através do site da Prefeitura. “Não recebi nenhuma denúncia. Pelo contrário, outro dia recebi uma carta elogiando muito o curso”, contou o prefeito.

Segundo ele, as mensagens enviadas através da plataforma utilizada pelos alunos são filtradas e encaminhadas aos departamentos a que se referem. A denúncia dos alunos da guarda não só não chegaram ao prefeito, como foram parar nas mãos de quem era o alvo das reclamações. A partir daí, segundo eles, castigos injustificados tiveram início.

Irregularidades

De acordo com os aprovados ouvidos pelo JL, as irregularidades são as mais diversas. Castigos físicos e exercícios realizados à exaustão levaram vários deles a desmaiar ao longo do curso. “Um deles chegou a ser atendido pelo Samu depois de ficar muito tempo parado embaixo de um sol escaldante, logo depois do almoço”, relatou um futuro guarda. Alunos foram proibidos de portar celular, depois que houve tentativas de gravar humilhações promovidas por superiores.

De acordo com os alunos, houve até quem desistisse da vaga por conta das constantes humilhações. “É muito frustrante conquistar a vaga depois de tanto esforço e ter que passar por essas coisas lá dentro”, lamentou um deles.

Outro guarda consultado pelo JL negou ter presenciado exageros por parte dos servidores que participam do curso de formação. Segundo ele, as medidas aplicadas durante as aulas estão previstas no Estatuto da Guarda Municipal.

Denúncias não chegaram à corregedoria

Segundo o corregedor da Guarda, Jurandir Gonçalves André, nenhuma informação sobre esses supostos abusos chegou ao conhecimento da corregedoria ou da ouvidoria do órgão. “Tantos os interinos da guarda quanto os próprios alunos estão sujeitos ao mesmo regime disciplinar. São todos servidores e têm responsabilidades”, afirmou.

André reconhece que existem temores por parte dos alunos, mas garantiu que a corregedoria preserva a identidade de quem denuncia irregularidades. “Evidentemente, se isso chegar até nós, será apurado. Se houve pressão ou qualquer outra situação irregular, precisa ser denunciado”, encorajou.

Fonte: www.jornaldelondrina.com.br