Trabalhadores estão correndo risco nas refinarias


A falta de investimento em refinarias, para atender à demanda crescente por combustíveis no país, está forçando a Petrobras a utilizar a capacidade máxima de refino, o que pode colocar em risco a estrutura de produção e até mesmo os trabalhadores do setor. 
Um incêndio na Unidade de Coque da Refinaria Duque de Caxias (Reduc) no sábado (4), que interrompeu a produção de combustíveis do local, estaria trabalhando com 120% da capacidade de suas máquinas, impedindo até mesmo a manutenção do local, segundo Simão Zanardi, presidente do Sindicato dos Petroleiros de Duque de Caxias (Sindipetro Caxias).
O acidente trará um prejuízo de R$ 500 mil por dia para a Petrobras, já que essa é a lucratividade diária da refinaria, de acordo com ele.
Para Simão, o Brasil precisa construir mais refinarias para entrar na autossuficiência de refino de petróleo e conseguir diminuir o gasto com importações. Mas isso só irá acontecer quando o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e a Refinaria Abreu e Lima ficarem prontos, em meados de 2020, segundo ele.
E as obras já sofreram diversos atrasos. O Comperj, por exemplo, deveria ter sido entregue em setembro de 2013. Após o Tribunal de Contas da União (TCU) identificar diversas irregularidades graves na instalação das tubovias, agora o prazo se estende para agosto de 2016. O custo do complexo, que era inicialmente de R$ 19 bilhões, já passa dos R$ 26 bilhões.
O presidente da empresa do setor petroquímico Braskem, Carlos Fadigas, chegou a afirmar em seminário de petroquímica que não existe sentido em empreender um projeto desse nível sem incentivos fiscais.
Enquanto a indústria de energia no Brasil continua atuando com apenas 16 refinarias, o mercado enfrenta um problema: aumentar a produção e colocar a vida dos trabalhadores em risco ou diminuir o ritmo e gastar mais com importações. "Na Reduc, já paramos os trabalhadores para discutir sobre segurança pessoal. Defendemos a Petrobras, mas não queremos morrer junto com ela", explica Simão.
O presidente da Sindipetro Caxias já havia mandado documento para a estatal, para o Ministério Público e para o Ministério do Trabalho alertando sobre o risco grave e iminente de acidentes por conta do aumento de carga, mas, segundo ele, nenhum dos três órgãos tomou atitudes preventivas.
O incêndio na Reduc atingiu sete bombas do local, mas, de acordo com Simão, diversos funcionários trabalham dia e noite para reparar os danos e espera-se que até o final de semana tudo esteja de volta à ativa. No entanto, ele alerta para a importância de diminuir o ritmo de trabalho das máquinas. "Após o acidente, é necessário parar para uma manutenção preventiva", diz.
A Agência Nacional de Petróleo (ANP) já havia multado a Refinaria de Paulínia (Replan), em São Paulo, em R$ 151,5 mil justamente por trabalhar acima da capacidade autorizada. A ANP deve publicar ainda este mês novas regras mais rígidas sobre o controle e manutenção de refinarias, já que os problemas estão cada vez mais recorrentes.
Só no mês de dezembro do ano passado, foram dois acidentes na Refinaria Landulfo Alves (Rlam), na Bahia, outro na Refinaria de Manaus (Reman), além da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, que ficou parada por duas semanas após um incêndio.
Até o fechamento dessa matéria, a Petrobras não quis se manifestar sobre o caso, afirmando não possuir novas informações.
Fonte: Jornal do Brasil