Quando o calor é inimigo


Calor, tempo abafado e pancadas rápidas de chuva. É o verão típico brasileiro que cada vez mais parece estar insuportável. "A impressão que tenho é que a cada ano piora mais", concorda o feirante José de Moraes, de 55 anos. Realmente, em todo o país, as temperaturas estão acima dos 30ºC, registrando um verão histórico dos últimos dez anos. 
Diariamente, Moraes trabalha debaixo de uma lona comercializando frutas e verduras, mas confessa que a "cobertura" não está ajudando muito. "A lona não protege mais porque às 9 horas da manhã as temperaturas chegam a 27 graus. O calor também tem espantado os clientes. Perto das 11 horas, não tem mais ninguém comprando", comenta ele, que já trabalhou na lavoura e construção civil. Sempre debaixo do sol. "Procuro tomar muita água, usar roupas leves e boné, mas protetor eu não tenho o costume de passar", completa. 
Assim como o feirante, muitos outros trabalhadores "dão duro" embaixo do sol. Nesta semana, a previsão para Londrina é de temperaturas máximas de 35 graus. "É 30 graus lá em cima e 150 graus aqui embaixo. Não é fácil não", comenta Josemar Batirola, encarregado de pavimentação asfáltica, que nos últimos meses tem trabalhado no recape das ruas na cidade. 
Para se ter uma ideia, o concreto betuminoso usinado a quente (CBUQ) é manuseado a 150 graus. "Já vem quente da Usina. Não tem como driblar o calor. Tem hora que dá uma sensação ruim, de indisposição, aí a gente para, dá uma pausa e toma água gelada", diz Márcio Lepinski, motorista de cavadora. Batirola também conta que não se descuida do protetor fator 30. "Passo no rosto e braço porque não dá para usar manga comprida. É muito quente", ressalta. 
Outra profissão que tem o sol como inimigo são os agentes de Endemias que percorrem as ruas, de casa em casa. "Tem dias que o sol está intenso e sinto que a pressão cai. Além disso, o uniforme gruda no corpo de tanto que a gente transpira, mas não dá para abrir mão da blusa com manga, chapéu e protetor solar de duas a três vezes ao dia. É proteção", afirma Adriana Alves de Jesus. 
IUV
De acordo com o meteorologista Tarcísio Valentin da Costa, do Instituto Tecnológico Simepar, até o final de semana a previsão é de forte calor. Ele explica que uma massa de ar seco predominante no Estado inibe o desenvolvimento de nebulosidade. "Durante esta semana o calor vai predominar com temperaturas máximas de 33 graus e com poucas nuvens. Devido a isso, será grande a Incidência dos Raios Ultravioletas (IUV)", afirma. 
Nas primeiras semanas de 2014, o Índice Ultravioleta (IUV)(medida da intensidade da radiação UV, relevante aos efeitos sobre a pele humana, incidente sobre a superfície da Terra) chegou a atingir níveis máximos no Paraná. Nesses dias, a sensação térmica em certos horários chegava a 40ºC. 
O IUV é agrupado em categorias de intensidades de acordo com recomendações da Organização Mundial da Saúde. O nível abaixo de 2 é considerado baixo enquanto acima de 11 é extremo. 
Ontem, segundo os dados do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe), Londrina apresentava IUV de 14, ou seja, intensidade extrema de radiação. E se a previsão se confirmar, até o final de semana esse valor não deve baixar.
Fonte: Folha de Londrina