Kireeff mantém projetos apesar de forças antagÎnicas


Ao final dos dois primeiros anos da administração, o prefeito de Londrina, Alexandre Kireeff (PSD), reconheceu que entra no ciclo final do mandato já com forte influência da disputa eleitoral de 2016, materializada por forças antagônicas existentes na cidade, situação que tem reflexos no comando da prefeitura. Em entrevista exclusiva à FOLHA, o prefeito afirmou que a reeleição está fora dos planos, embora exista o risco de se candidatar para tentar dar sequência a sua gestão. 

Kireeff, que se considera de centro que executa políticas de esquerda, analisou o cenário político da cidade, dividido e prejudicial ao desenvolvimento, segundo ele. Retomando a polarização das últimas eleições municipais, ele citou o principal adversário daquele pleito, o deputado federal eleito Marcelo Belinati (PP), como um representante da política antiga, cuja ação tem reflexos na Câmara de Vereadores. 

O prefeito fez, ainda, um balanço do mandato e falou sobre a recuperação da credibilidade do município, abalada depois da cassação do ex-prefeito Barbosa Neto (PDT) e da prisão do ex-vice Joaquim Ribeiro (sem partido), que renunciou ao cargo em meio a denúncias de corrupção. Com as contas equilibradas, Kireeff disse que um dos principais focos de preocupação para 2015 é o deficit da Caixa de Assistência, Aposentadorias e Pensões dos Servidores Municipais (Caapsml), que pode exigir aportes anuais de até R$ 50 milhões, retirados do orçamento porque o desequilíbrio no fundo é real

BALANÇO DA GESTÃO 

(Esse período) Foi de recuperação da credibilidade da prefeitura junto a fornecedores, à sociedade, vereadores, governo do Estado e governo federal. Hoje nós temos uma condição financeira melhor do que encontramos. Não temos mais projeções de deficit de R$ 70 milhões ao ano. A Sercomtel fecha o ano com lucro, modesto, mas com lucro. Superamos todas as dificuldades referentes aos contratos emergenciais, que já fazem parte do passado. Das obras que estavam paradas quase a totalidade já está finalizada ou em andamento e novas obras foram conquistadas. Tivemos contratações na saúde, na educação e na segurança, mais de 1,2 mil novos profissionais e ainda assim, com as contas equilibradas. 

FALTOU FAZER 

As praças deveriam estar numa condição melhor, pelo nosso planejamento. O (projeto) Boa Praça não foi bem-sucedido na modelagem aprovada na Câmara e está sendo modificado, mas o resto está dentro do cronograma mesmo. Plano de eficiência administrativa todos implementados, plano habitacional, desenvolvimento econômico... 

PLANTA GENÉRICA DE VALORES 

Está lá numa gaveta. Uma pessoa realmente criou um obstáculo e está lá. Tem pessoas que são contras essa discussão, não tem problema. Eu assumi o ônus de apresentar o projeto de lei que é impopular, mas é algo que tem de ser debatido. Temos imóveis com o mesmo valor que tem IPTU diferente. Imaginamos que fosse possível baixar o IPTU de alguns, o que seria interessante, mas isso também está obstruído. Kireeff disse que vai esperar o parecer da Comissão de Finanças antes de decidir o sobre a apresentação de emenda com modificações no projeto. 

REFORMA ADMINISTRATIVA 

Vai à Câmara de Vereadores na abertura dos trabalhos. Não foi ainda porque a Câmara estava com agenda apertada com o Plano Diretor. Basicamente, a reforma é diminuição de secretarias e de unidades gestoras, com a transferência de recursos de custeio administrativo para políticas públicas. Kireef confirmou que haverá trocas no secretariado, porém, sem citar nomes ou quantas mudanças. 

MUDANÇAS NA SEMA 

Esse tema foi vazado. Saiu de dentro da prefeitura, por servidores que tiveram a informação segmentada, fizeram a interpretação e levaram para a discussão com a sociedade. Isso acontece muito aqui na prefeitura. Perderam uma oportunidade, mas eu não vou entrar em conflito e tentar reverter algo que já foi preconceituosamente interpretado. 

INCENTIVO AOS SERVIDORES 

Aqui na prefeitura, o servidor que ocupa esse cargo (de secretário) não tem complementação no vencimento e isso deve ser objeto da nossa atenção nessa reforma. Isso (a situação atual) faz com que não seja tão atrativo ao servidor e a gente perde oportunidade de ter bons profissionais liderando suas pastas. 

PARTICIPAÇÃO DISCRETA NA CAMPANHA DE BETO RICHA 

Eu não fui eleito para fazer campanha. Abri meu voto com clareza mas eu não sairia em cima de caminhão por aí pedindo voto. 

REPRESENTATIVIDADE POLÍTICA 

Eu não sou exatamente um representante da família política brasileira. A minha eleição foi uma afronta a esse status quo. A maneira como eu administro a cidade também não é harmoniosa com o que prevalece na política brasileira. Eu trabalho em torno de projetos. 

REELEIÇÃO 

Não sou candidato à reeleição, a probabilidade é pequena, mas eu sei que corro o risco. 

Kireeff explicou o que seria o risco: "As circunstâncias me convencerem que eu deva ser candidato, mas em princípio eu quero entregar a prefeitura com as contas equilibradas, inclusive as questões que não são tão saborosas, impopulares, mas que vão estruturar a cidade." 

SOBRE UM CANDIDATO DO GRUPO POLÍTICO 

Compreendo que é necessário tomar a decisão num grupo muito maior do que aquele que me elegeu. A decisão da minha candidatura foi tomada num grupo restrito e esse processo de desenvolvimento de Londrina, continuidade desse saneamento político e financeiro da prefeitura deve ser discutido num grupo maior, nisso eu concordo e tenho conversado com outras forças políticas. Mas eu continuo com a minha posição de fazer um mandato só. 

DIFICULDADE DE LONDRINA PARA ELEGER MAIS DEPUTADOS 

É reflexo do grande conflito político que Londrina vive. Desde a cassação do Belinati, não há uma convergência de forças e isso acaba gerando muito individualismo, muita ânsia por protagonismo e o resultado eleitoral é baixo. A cidade jamais se reorganizou politicamente desde então. Aqui tem muita impetuosidade, muita gente querendo ajudar, mas não conseguimos nos articular em torno de projetos comuns. A minha eleição é fruto disso. Eu mesmo sou uma pessoa que, de forma impetuosa, entrou no processo eleitoral, sem uma articulação mais ampla e a população me elegeu. 

RELAÇÃO COM O DEPUTADO MARCELO BELINATI 

Eu o convidei para vir à prefeitura, mas ele ainda não veio. Acredito que após assumir (mandato na Câmara dos Deputados), o relacionamento deverá se intensificar. 

FORÇAS POLÍTICAS ANTAGÔNICAS 

Marcelo Belinati, eleito agora, representa a política antiga. Não faço julgamento da pessoa dele, mas a marca que ele carrega é aquela política que foi cassada, que era parceira do José Janene (ex-deputado federal e presidente do PP, morto em 2010). É evidente, tem um olhar diferente do nosso na prefeitura e isso está sendo validado até porque tem uma eleição importante por aí. Tudo isso dá um caldo que só o tempo vai superar. 

REFLEXO DESSE ANTAGONISMO 

Sim. Quando eu falo que um vereador engavetou um projeto (revisão da planta genérica de valores), é do mesmo partido do Belinati. É o (Jamil) Janene. Representam a política antiga, não têm o meu modo de enxergar a política. Não estou dizendo que está certo ou errado, mas é absolutamente antagônica a nossa maneira de enxergar a política. Vejo dessa forma. 

PERFIL 

Seguindo o modelo clássico, me considero de centro com viés liberal na teoria, mas na prática, de centro que executa políticas de esquerda, não tenho dúvida alguma. O Brasil é um país de centro-esquerda. É o olhar do brasileiro, que exige um Estado presente, com serviços públicos de qualidade. Mesmo que você tenha um viés liberal, a execução das políticas públicas é de centro-esquerda. 

CAAPSML, QUESTÃO MUITO RELEVANTE 

O pessoal da Caapsml fez um trabalho muito bom, me apresentou o relatório, e vamos nos debruçar, porque se nada for feito, Londrina pode enfrentar um deficit de R$ 2 a R$ 7 bilhões em médio prazo. Curto prazo, até R$ 50 milhões de aporte anual de recursos na Caapsml. Então, temos que criar soluções. Kireeff negou que vá tributar mais o servidor para salvar a previdência municipal. Ele antecipou que pretende, no setor financeiro, criar a Nota Londrina. 

PLANO DIRETOR 

Imagine um investidor planejando a sua estratégia empresarial na cidade sem saber que tipo de zoneamento estaria numa região e que poderia mudar a partir de uma determinada votação. Isso cria instabilidade e o investidor gosta de segurança e transparência. A tendência é que tenhamos naturalmente um novo momento de desenvolvimento industrial pela clareza das regras. O prefeito não descartou vetar algumas emendas. Para ele, acabaram a instabilidade e a insegurança na cidade. 

CONFIANÇA 

Ao final da entrevista, Kireeff destacou o índice de confiança do londrinense na gestão municipal, conforme dados da pesquisa feita pelo Instituto Multicultural e divulgada em parceria pela FOLHA e Rádio Paiquerê AM. Aquela informação de 70% de confiança. Isso nos dá mais coragem e fortalece a nossa determinação para continuar trabalhando em favor da cidade, deixando de lado os projetos pessoais e enfrentando forças muito poderosas e antagônicas.

Fonte: Folha de Londrina