Aula de truculĂȘncia no Centro CĂ­vico


O clima entre policiais e professores e outros servidores na Praça Nossa Senhora de Salete, no bairro Centro Cívico, em frente à Assembleia Legislativa (AL), em Curitiba, segue tenso desde ontem, quando ocorreram três confrontos que deixaram ao menos 13 feridos. A expectativa de votação final do projeto que prevê mudanças na Paranaprevidência ainda hoje gera mais preocupação de que novo tumulto possa vir a ocorrer. 

A primeira confusão generalizada ocorreu no início da madrugada de ontem, depois que caminhões de som que eram utilizados pelos manifestantes foram rebocados da praça por volta da 1h30. Segundo relatos da APP-Sindicato, que representa os profissionais da rede estadual de ensino, muitas pessoas tiveram que deixar o espaço à base de spray de pimenta. Para impedir a retirada, os professores se sentaram no chão na tentativa de atrapalhar o avanço da PM. Ao menos oito pessoas ficaram feridas. Já de manhã, por volta das 10h30 e, em seguida, às 11 horas, novas confusões tomaram conta dos arredores da praça quando os professores tentaram chegar à AL. Dessa vez policiais militares usaram jatos dágua, spray de pimenta, balas de borracha e gás lacrimogêneo para dispersar a mobilização. Conforme o sindicato, nesses tumultos mais cinco pessoas se feriram. 

DUAS VERSÕES 

Em nota, a Secretaria Estadual de Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp) informou que a Polícia Militar (PM) apenas cumpriu uma determinação da Justiça e garantiu que não houve agressão aos professores. O mesmo argumento foi usado pelo governador Beto Richa em entrevista concedida ao Paraná TV, da RPC. De acordo com a PM, o trabalho da polícia foi feito para "garantir o direito de todos se manifestarem, mas com o devido rigor com qualquer pessoa que venha a danificar o patrimônio público e privado". 

O posicionamento, entretanto, foi bem diferente do que alegaram os professores e servidores envolvidos na confusão. "Teve gente que aspirou muito gás lacrimogêneo, os policiais foram em cima deles, o que é um absurdo, atingiram o caminhão com uma bomba. Aqui estava uma guerra, muita gente foi prejudicada neste processo", ressaltou a presidente da APP-Sindicato, Marlei Fernandes. 

A professora de Química de Quedas do Iguaçu (Oeste), Hellyn Paluch, de 30 anos, relatou que chegou a ser atingida por spray de pimenta durante o confronto no final da manhã de ontem. "Meu rosto ardia, levei pancada, mas viemos aqui para lutar por nossos direitos", disse. Ela contou que junto com outras docentes pretende permanecer na Praça Nossa Senhora de Salete o tempo que for necessário. "Não temos medo de que tentem nos retirar durante a madrugada, temos medo do que a aprovação do projeto do Paranaprevidência pode trazer para a categoria. Isso sim nos preocupa", completou Hellyn. 

ESTIMATIVAS 

Segundo estimativas da APP-Sindicato, a mobilização de ontem reuniu aproximadamente sete mil pessoas no Centro Cívico. Por outro lado, a PM manteve o número de três mil manifestantes. Nem Sesp nem PM confirmam o efetivo policial que faz o cerco à Assembleia Legislativa, entretanto, informações extraoficiais dão conta de que o número de policiais deslocados para fazer a segurança pode chegar a quatro mil. 

ACAMPADOS 

Cerca de 120 barracas já haviam sido montadas na Praça Nossa Senhora de Salete até o início da noite de ontem. Vindos de todas as regiões do Estado, professores e outros servidores públicos afirmaram não temer uma nova reação por parte dos policiais. A APP-Sindicato também informou que solicitou à Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) a presença de uma equipe no local durante a madrugada para garantir a segurança dos manifestantes.

FONTE: FOLHA DE LONDRINA