Sociedade civil repudia ataque a professores


Os confrontos entre centenas de servidores estaduais e a Polícia Militar (PM) na última quarta-feira, em frente à Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), em Curitiba, repercutiu no mundo inteiro. Além da notícia em grandes jornais estrangeiros, como o The New York Times, entidades divulgaram notas de repúdio à abordagem truculenta da polícia, acionada pelo governo Beto Richa (PSDB), sobre os manifestantes. Enquanto os deputados estaduais terminavam de aprovar no plenário a reforma da Paranaprevidência, que era o foco da discórdia, pelo menos 213 pessoas ficaram feridas nos embates do lado de fora, de acordo com a prefeitura da capital. A proposta foi sancionada ontem pelo governador.

Nesta semana, o projeto de lei, do Executivo estadual, entrou na pauta da Alep. O texto permite que os 33,5 mil servidores com mais de 73 anos completados até 30 de junho do ano passado sejam pagos com o dinheiro do fundo previdenciário. Até então, esses vencimentos eram quitados pelo Tesouro do Estado e os recursos do fundo figuravam como uma “poupança” para o futuro. Temendo a aprovação, servidores paralisaram as atividades em várias cidades. Professores da rede pública paranaense e das universidades estaduais cruzaram os braços. Funcionários do Poder Judiciário e agentes penitenciários fizeram o mesmo.

Universidades

Universidades do Paraná divulgaram notas de repúdio. A Universidade Estadual de Londrina (UEL) manifestou um “repúdio veemente” à violência praticada contra os servidores. Assinada pela reitora Berenice Quinzani Jordão, o texto defende que “o uso da força é injustificável e inaceitável em uma verdadeira democracia e que a truculência é um extremo atentado à liberdade de expressão e o mais forte sinal de desrespeito ao ser humano.” A Universidade Estadual de Maringá (UEM) e o Instituto Federal Paranaense (IFPR) também declararam apoio aos manifestantes.

Jornalistas

Para o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindiJor-PR), o governo chegou ao “auge do autoritarismo, da falta de democracia e do desrespeito com os trabalhadores”, classificando a repressão empreendida como “gratuita”. “Para impedir professores e servidores de se expressarem, Richa fez o inimaginável para isolar a Alep e deixar os deputados governistas à vontade para aprovar o projeto sem resistência.”

Arquidiocese

Bispos, padres, diáconos e lideranças leigas da Arquidiocese de Londrina também manifestaram indignação à violência na capital. Na avaliação da entidade, os servidores não podem pagar por dívidas contraídas pelo governo e as cenas de truculência revelam desespero. “Neste ano, estamos vivendo o Ano da Paz e o papa Francisco faz continuamente o apelo para a prática do diálogo. No Paraná, estamos na contramão, preferindo o uso do poder e violência”, disse em nota.

Bancários

O Sindicato dos Bancários de Maringá e Região se solidarizou. Em nota, criticou a ação da PM, com cães, cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. “Trata-se de uma ação desproporcional, de extrema violência, que demonstra autoritarismo, falta de respeito à democracia e total desprezo para com os trabalhadores”, escreveu o presidente da entidade, Claudecir de Souza.

Acil

O presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), Valter Orsi, lamentou o episódio de violência, mas evitou responsabilizar o governador diretamente. “O direito de se posicionar é democrático, mas só há perdedores. Perde o governo, perdem os policiais, os professores e a democracia no Paraná”, afirmou ao JL. “Espero que isso cesse e cheguemos a um acordo.”

Anistia internacional

A Anistia Internacional se pronunciou sobre o episódio por meio de nota, segundo a Agência O Globo. A avaliação é de que houve uma “repressão violenta” à manifestação dos servidores. O diretor-executivo da organização no Brasil, Atila Roque, afirmou que a ação da polícia deve ser investigada “de forma célere e independente” e que o governador e o comando da polícia têm de assumir total responsabilidade pelo “uso desproporcional da força”. “A polícia não age por conta própria e as falas das autoridades mostram que, para o governo, a ação policial foi adequada. Isso é uma agressão à liberdade de expressão e ao direito à manifestação pacífica.”

Prefeito

O prefeito de Londrina, Alexandre Kireeff (PSD), acompanhou de dentro da Alep a votação que alterou a Paranaprevidência. Na opinião dele, os deputados deveriam ter priorizado o diálogo com os servidores. “Minha impressão é de que era possível ter evitado tudo aquilo [a confusão] através do diálogo. Ao que parece, houve uma inversão desses valores simplesmente para viabilizar a aprovação do projeto”, disse ao JL.

Dilma

De acordo com a Folhapress, Dilma comentou indiretamente o episódio. “Diálogo é algo que devemos enfatizar nesse momento em que vemos alguns acontecimentos bastante graves no que se refere à relação com os trabalhadores que reivindicam [seus direitos]. Consideramos que as manifestações dos trabalhadores são legítimas e temos de estabelecer esse diálogo, sem violência.”

Richa

“Como democrata, cristão e cumpridor das leis, lamento profundamente os dramáticos incidentes ocorridos no Centro Cívico. Incidentes que tiveram sua origem na irresponsabilidade, na leviandade e no extremismo de grupos radicais estranhos à categoria dos professores paranaenses. Desde o início das negociações, tenho me pautado pelo diálogo. Tenho crença profunda de que a História mostrará que a razão está do lado do equilíbrio, daqueles que praticam a democracia, e não dos que irresponsavelmente provocam a desordem pública, destilam ódio e rezam pela cartilha do quanto pior, melhor”, escreveu o governador à Gazeta do Povo. (com informações de Marcelo Frazão e Tatiane Salvatico)

 

O dia seguinte

Milhares de londrinenses se reuniram na manhã de ontem para protestar contra o episódio de violência em Curitiba. No calçadão, professores, servidores e solidários aos funcionários estaduais vestiram preto e seguraram faixas com críticas diretas ao governador Beto Richa (PSDB) e aos deputados estaduais que votaram a favor da alteração da Paranaprevidência. 

Em Curitiba, também houve manifestação ontem. Estudantes saíram em passeata pelo centro da capital e, por volta das 13 horas, protestaram em frente ao Palácio Iguaçu.

Mais manifestações são esperadas tanto em Londrina como em Curitiba nos próximos dias. Várias delas estão sendo organizadas pelas redes sociais. (Com informações de Chico Marés e Thais Skodowski/Gazeta do Povo).

MP vai investigar excessos

O Ministério Público (MP) abriu um procedimento investigatório para apurar eventuais excessos cometidos na manifestação de quarta-feira, no Centro Cívico, em Curitiba. “O MP esteve lá e tentou negociar o fim do confronto”, disse o coordenador do Centro de Apoio Operacional da Promotoria de Direitos Humanos do MP Olympio de Sá Sotto Maior. 

A investigação deve durar cerca de 30 dias. Até lá, os promotores de Curitiba e do interior vão ouvir os manifestantes e policiais que quiserem colaborar com as investigações. Até agora, cerca de 20 pessoas já foram ouvidas. “O Ministério Público vai promover uma investigação imparcial”, disse o procurador-geral Gilberto Giacoia. (Kelli Kadanus/Gazeta do Povo)

HU restringe atendimento

Por causa da greve na Universidade Estadual de Londrina (UEL), que começa oficialmente hoje devido à aprovação da reforma da Paranaprevidência em Curitiba, o Hospital Universitário (HU) pede à população que não procure atendimento espontaneamente no local. De acordo com a superintendente Elizabeth Ursi, somente os pacientes encaminhados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e pelo Sistema Integrado de Atendimento ao Trauma e Emergências (Siate), assim como aqueles que já estão internados para cirurgias eletivas, serão atendidos normalmente. O ambulatório de fisioterapia do HU também paralisa as atividades a partir de hoje. Segundo a superintendente, as medidas são as mesmas utilizadas pela unidade na última greve da UEL. Já os professores e servidores da rede estadual de ensino, assistidos pela APP-Sindicato, continuam de braços cruzados até a próxima terça-feira, quando uma assembleia definirá se haverá greve por tempo indeterminado.

Fonte: JORNAL DE LONDRINA