SOB PRESSÃO - SaĂșde do mĂ©dico em risco


Falta de estrutura adequada nas unidades básicas de saúde, salários pouco atrativos, cobrança dos pacientes e aumento da demanda, principalmente com a migração da população que está fugindo dos planos de saúde. Essas são algumas das situações que mostram a vulnerabilidade dos médicos no Brasil. Por conta do estresse, os profissionais, que precisam administrar as angústias do dia a dia, estão adoecendo. Profissionais com histórico de depressão são comuns. 
É o caso de uma médica que trabalha no Jardim Ideal (zona leste de Londrina), que preferiu ter a identidade preservada. Depois de 19 anos trabalhando no serviço público, ela tem enfrentado problemas de saúde por conta da rotina atribulada e das pressões que sofre no dia a dia. 
"Eu me sinto sempre na pressão. A gente tem que pisar em ovos. Faço tratamento para depressão e ansiedade. Tomo medicamento para dormir. Os profissionais da saúde estão doentes. Os salários de médicos não são compatíveis e isso faz que as pessoas peçam demissão", contou a médica. 
A médica está atendendo também na UBS Pindorama, no Parque das Indústrias Leves, também na zona leste, onde falta pediatra. Ela atende três vezes por semana na unidade, mas, segundo a médica, para suprir a demanda da região seria necessário ter um pediatra diariamente. "Na Pindorama tem uma longa fila de espera para pediatra, por exemplo, e as mães têm dificuldades para marcar retorno. Essa demora deixa os pacientes irritados", afirma. Ela conta que já houve casos de pacientes que agrediram os médicos por causa da demora no atendimento. 
De acordo com ela, a Secretaria Municipal de Saúde orienta que os médicos atendam 16 crianças durante o turno de quatro horas, o que dá uma média de 15 minutos por consulta. A médica não concorda com esse número, pois acredita que para um bom atendimento o máximo deveria ser de 12 consultas. "Eu prezo pela qualidade do atendimento e não pela quantidade. Às vezes, eu pego um recém-nascido e os pais estão ansiosos e têm um monte de dúvidas. Então não consigo atender muito mais do que isso. É o limite para atender com qualidade", frisa. 
A corrida contra o relógio gera ansiedade e agrava do quadro de depressão da profissional. "O problema são as demandas e o estresse que isso gera nos pacientes pela demora no atendimento e nós, médicos, é que sentimos a pressão", enfatiza. A médica conta que muitos pedidos de demissão são por causa do excesso de trabalho. "Eles (Secretaria de Saúde) começam a te colocar em várias unidades e exigem que os médicos façam a triagem de pacientes, sendo que essa é uma função da auxiliar de enfermagem. O que se percebe é que está diminuindo ou não está sendo reposto adequadamente o número de profissionais de enfermagem e as auxiliares de enfermagem estão sobrecarregadas também. Elas assumem funções administrativas e os médicos acabam absorvendo a função delas". 

DEFICIT
O secretário de Saúde de Londrina, Gilberto Martin, que assumiu a pasta no começo do mês, solicitou um levantamento sobre o deficit de médicos na rede municipal. Esses dados vão embasar o pedido para a realização de concurso público. Ele concorda, no entanto, que o serviço público não é atraente para os médicos. "Enquanto não houver uma carreira pública para o médico, assim como ocorre com promotores e juízes, onde o concursado pode crescer, a rede pública não será atraente." 
Em relação ao tempo máximo das consultas, Martin explica que existe um parâmetro de tempo médio das consultas previsto pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de 15 minutos ou quatro consultas por hora. No entanto, segundo o secretário, esse tempo é apenas uma referência e o médico é quem define o tempo que precisa para atender o paciente. "Alguns atendimentos são mais rápidos, como uma amigdalite, por exemplo. Já no caso de uma cefaleia (dor de cabeça) o médico vai precisar de mais tempo para fazer o diagnóstico. Ele (o médico) precisa ter noção do seu tempo e do ritmo dos pacientes." O secretário informou ainda que pretende conversar com os médicos para conhecer as principais demandas e insatisfações da classe.

Fonte: Folha de Londrina