Mais de 200 trabalhadores protestaram contra a Nissan neste domingo em São Paulo


Durante a passagem da Tocha Olímpica pela Capital neste domingo, dia 24, mais de 200 trabalhadores metalúrgicos e comerciários de São Paulo realizaram protesto contra práticas abusivas cometidas pela Nissan, empresa patrocinadora oficial das Olimpíadas Rio 2016.

 Os protestos foram realizados na Avenida Paulista e em frente à loja da Nissan na Avenida Brasil, no Jardim América. A tocha chegou ao local carregada pelo cantor sertanejo Daniel e ficou parada dentro da concessionária por 30 minutos.

 O objetivo das manifestações foi protestar contra a agressiva campanha antissindical promovida pela Nissan North America dirigida aos trabalhadores da Nissan na cidade de Canton, no Mississippi, EUA.

 A iniciativa no Brasil e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da Força Sindical e da União Geral dos Trabalhadores (UGT) em parceria com a United Auto Workers (UAW), central sindical americana que representa os trabalhadores do setor automobilístico nos EUA. Neste domingo participaram dos protestos Karen Camp, trabalhadora da Nissan em Canton, e Sanchioni Butler, coordenadora da UAW e responsável pela campanha contra a Nissan no Mississippi.

 "Eu estou levando para os Estados Unidos à coragem dos trabalhadores brasileiros de se unirem e se organizarem, para que os meus colegas de trabalho percam o medo de se sindicalizar”, desabafa Camp.

 Em São Paulo a campanha tem o apoio do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo.

 Ricardo Patah, presidente da UGT, que esteve na manifestação na Avenida Brasil, disse que o engajamento da UGT e de outras entidades sindicais nesta campanha tem um objetivo solidário em relação aos trabalhadores da Nissan nos EUA.

 “Já estivemos no Mississipi, portanto estamos acompanhando de longa data essa prática antissindical da empresa, que tem um presidente brasileiro e que nos constrange profundamente por não abrir o diálogo mesmo com audiências públicas realizadas no Brasil. A cada momento percebemos que eles não dão valor nenhum aos seus trabalhadores. Então não poderíamos deixar de estar à frente, aqui no Brasil e em oportunidades como esta de hoje, para demonstrar nossa insatisfação com essa empresa e mostrar para a sociedade civil que o movimento sindical internacional tem que ser solidário Hoje acontece lá nos EUA. Amanhã pode ser aqui”, disse Patah.

  Entenda o caso Nissan/EUA

 A Nissan North America promove uma agressiva campanha antissindical em sua fábrica da cidade de Canton, estado do Mississippi, adotando práticas antiéticas e ilegais para intimidar seus trabalhadores, especialmente os mais vulneráveis.

 Tais práticas são completamente incompatíveis com o Código Básico da Iniciativa Ética Comercial, que é o cerne do Guia da Cadeia de Suprimentos Sustentável dos Jogos Olímpicos, documento que a Nissan firmou para poder patrocinar os jogos.

 Entidades sindicais brasileiras e internacionais já pediram formalmente ao Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016 que exija da Nissan um plano de ação corretivo. No dia 11 de abril, trabalhadores e diversas entidades sindicais cobraram da Nissan, durante audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado brasileiro, que respeite nos Estados Unidos o direito de os trabalhadores se sindicalizarem.

 Nos EUA, aproximadamente metade dos trabalhadores da Nissan é terceirizada, ganhando menos de 1/3 do salário de um trabalhador sindicalizado exercendo a mesma função, com planos de saúde precários (quando existentes), jornadas exaustivamente longas e sem férias remuneradas.

 Os trabalhadores são obrigados a comparecer a seções de doutrinação antissindical e assistir vídeos antissindicais nos refeitórios e nas salas de descanso, e são ameaçados de demissão e/ou penalizados em suas funções ao menor sinal de que pretendem votar pela instalação do sindicato, tendo havido inúmeros casos de demissão. A empresa também espalha sistematicamente boatos de que a fábrica será fechada e transferida para o México, com a demissão de todos os seus funcionários, caso os trabalhadores consigam a sindicalização.

 Uma investigação do Conselho Nacional de Relações Trabalhistas dos EUA (NLRB) incorporou, a partir do relatório Escolhendo Direitos, a denúncia de que a Nissan teria violado a lei federal e praticado discriminado ilegal.

 A Nissan é a principal patrocinadora dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016. Como tal, deve obedecer ao Código Básico da Iniciativa Ética Comercial, que é parte central do Guia da Cadeia de Suprimentos Sustentável e é um documento importantíssimo para o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016.

 O Guia Básico da Iniciativa Ética Comercial diz que a liberdade de associação e o direito a negociação coletiva devem ser respeitados pela empresa.

 Tanto a Nissan Brasil como a Nissan North America são parte da Nissan Motor Corporation.